Não
é a toa que nos chamam de gay ou, traduzindo do inglês, “alegre”, “divertido”...
É que em muitos momentos precisamos ser
fortes e estampar um sorriso na cara, mesmo estando destroçados internamente...
O mundo afora não tem sido muito agradável e receptivo para conosco. As pessoas
torcem o nariz, viram o rosto: mal conseguem esconder o nojo e o ódio que sentem
por pessoas como eu, que pecou tão somente por nascer diferente.
Colocam
a mim na mesma corja que criminosos, assassinos, pedófilos... Não importa quem
somos ou o que pensamos, mas independente de nossa humanidade, estamos todos
condenados a ser uma categoria amaldiçoada a ser limpa pela sociedade. Muitos
de nós somos expulsos de casa todos os dias, perdemos “amigos” e nos escondemos
em enclaves – muitas vezes temos medo até de sair na rua, sem que alguma
lâmpada fluorescente nos acerte na cabeça... –, muitos de nós sequer nos assumimos, encurralados por tantas opiniões preconceituosas e ações repressivas de todos
os lados.
Para
ser gay neste mundo, antes de tudo, é preciso saber morrer todos os dias um
pouquinho, esvair nosso orgulho, humilhar-se... É preciso também saber
esconder-se: vestir roupas socialmente mais aceitas, andar cronometricamente
compassados e ensaiados, vigiar nossos gestos e expressões: trata-se de uma
questão de sobrevivência! Escondemo-nos de nossa família, em muitos casos, de
nossos amigos. Em outros há até quem se esconda de si mesmo! Ser gay
definitivamente pode até ser chamado de pesadelo, não pela sua natureza, mas
pelo que nos fazem viver: um pesadelo que não acaba com o raiar do dia e que
cessa temporariamente à noite, quando estamos desacordados.
Tentam
calar nossa voz, tentam conter nosso grito, silenciar nosso choro, esconder
nossas feridas... Pior: querem nos colocar como coisa passível de tratamento,
como se fôssemos algo a ser corrigido, ao passo que seguem reforçando um
discurso moral – sim, primeiramente moral – de que homossexualidade não é
apenas um “desvio”, mas uma abominação, um pecado inadmissível (claro que o
projeto popularmente intitulado de “cura gay” não tem nada a ver com interesses
de camadas conservadoras, não é mesmo?) e que deve ser exterminado, ou curado –
em nome de Gesuis!
Apesar
de uma vida regrada e reprimida não titubeio em dizer: tenho ORGULHO de ser
gay. Tenho ORGULHO de ser capaz de entender o sofrimento das minorias. Tenho
ORGULHO de saber disseminar alegria, solidariedade e amor, mesmo recebendo como
troco um cuspe na cara e xingamentos de toda sorte... Tenho ORGULHO de ser gay,
porque, diferente do que tentam me convencer, eu sou diferente como uma rara
orquídea, a qual em sendo igual perderia toda sua beleza!