domingo, 24 de março de 2013

ROUPA MOLHADA


Minha roupa está no varal: suspensa, molhada.
Minha vida está no varal, com a alma encharcada,
Da chuva que passou e deixou além do frio
Umas gotas escorrendo no âmago do meu brio...

As nuvens que no céu de mim se afastam
E rompem brados de trovões,
Deixam na memória os raios que se alastram,
Talvez quebrando seus grilhões.

E o vento sereno que acaricia minhas costas nuas,
Além das roupas que secam no varal
Também pedem o calor das mãos suas!

E como cada chuva tem o seu final,
Possa este sentimento ter o seu fim
E deixe, de uma vez, de molestar a mim!




sexta-feira, 22 de março de 2013

Alma nua


Cale minha boca com seu beijo,
Cálido, caliente, não perca este ensejo!
Eles são teus, meus lábios...
Aproveite-os, seja sábio!

Me abrace com seus braços,
Não perca tempo, amarre estes laços!
Pois que todo meu corpo é seu.
Poderia, pois, colar seu corpo no meu?

Sinta o bater de meu coração...
Vamos, agora segure minha mão.
Preciso te dizer agora:
Te amo em qualquer hora...!

Sinta minha alma encontrando a sua
E num eterno beijar-abraçar-sentir
Permita este amor de uma vez fluir
E deixe sua alma nua...

Liberdade é poder-ser

     A vida é feita de escolhas. Escolhas estas que exigem mudança, dedicação e, inevitavelmente, estar preparado para possíveis intempéries. Já dizia Sartre que estamos condenados a ser livres e, assim sendo, podemos exercer a nossa liberdade.
     Naturalmente é de se esperar que o ato de praticá-la não corresponda, na maioria dos casos, em uma atividade pacífica, a qual nos conduz tranquilamente para um caminho que nos realize existencialmente. O exercício da liberdade exige de nós um preço, tanto material quanto subjetivo: estar preparados emocional e financeiramente. Ciente disso, por quê não lutar?
     Mas quem nos assistirá no momento em que "lançarmos-nos" no terreno das novas possibilidades? Acaso ficaremos relegados à miséria e solidão? Creio que não, afinal, apesar de não ser de obrigação de ninguém estabelecer uma relação de "cuidado" nessas horas, a malha social, não de maneira uniforme, assume uma postura empática e moral: não é deste mesmo tecido que surge o ditado popular "uma mão lava a outra"? Portanto não, não ficaremos desassistidos!
     A questão, entretanto, vai nos acompanhando no percurso da alforria sem ser respondida, ao menos não de imediato. E o futuro tão misterioso, tão obscuro permanece escondido por uma trama ainda não desenrolada. Cabe a nós estar preparados para o novo, para o agradável e o árduo, por vezes doloroso. A vida é isso mesmo: explosão, movimento, nascimento e morte das mais variadas formas e formas.
     Cabe a nós confiar sempre e duvidar nunca de nossa capacidade, apostando todas as cartas na nossa auto-confiança. Isto não é auto-ajuda, é a mais pura verdade! Cabe a nós sermos nós!

quinta-feira, 21 de março de 2013

O parecer da aparência


 Em você eu vejo várias faces
Um monte de vocês em ti
Sei que não usas disfarces
Será que “o você” eu consenti?

É difícil alcançar sua essência...
E falo assim como se ela existisse.
Acaso seria assim a existência
Ou tal essencialismo um mero chiste?

Não consigo decifrar seu mistério
Minha já amada esfinge
Ainda não consegui ver seu outro hemisfério
A parte de ti que apenas cinge...

Parece que em cada sorriso há poemas de amor nunca escritos, dores nunca reveladas... Em cada olhar uma doce criança absorta, afogando-se nos próprios sentimentos... Parece, sim, que cada vez que lanças teu olhar sobre o horizonte buscas ser mais forte e mais esperançoso. Mas apenas parece...


terça-feira, 19 de março de 2013

Carta aberta aos pais autocráticos


Já nem sei mais como devo começar este texto... A pergunta disparadora é: são os filhos uma propriedade? Gente, por favor, tudo bem que eu tenho de respeitar as opiniões alheias, mas é INCONCEBÍVEL um absurdo desse tamanho! Filhos NÃO são uma propriedade particular de seus pais! já respondendo a pergunta.
Não são uma possessão por terem sido estes quem conceberam nossa nascença! São figuras, sim, aos quais devemos respeito e consideração. Até porque, poxa, imaginem o tanto de trabalho e de recursos que não são deslocados pra criar um indivíduo! Mas isto dá o direito de um sujeito apoderar-se da existência alheia, assumindo a figura de um monarca autoritarista sobre nossas vidas?
A resposta não é objetiva para muitos e quase nada prática pra maioria dos casos. Afinal, qual destes pais deixaria voar assim tão facilmente "algo" que lhe custou tanto esforço e dedicação? E não falo aqui só financeiramente, mas moralmente também! Certamente, pois há pais e mais pais que cobram um preço simbólico extremamente alto para um sujeito dotado de singularidade e, ao menos teoricamente, de liberdade: o preço de sermos uma massinha de modelar inerte e submissa!
Aprendi na faculdade e também na vida fora dela que somos um campo infinito de novas possibilidades. Aprendi que nós os seres humanos somos livres para traçarmos nossos próprios caminhos e, por mais que nos seja negado isto, precisamos de um lugar para nós no mundo, onde consigamos enxergar nossa existência mais própria, assim como defendeu Heidegger, Sartre, Rogers, entre vários outros filósofos e psicólogos existenciais.
Não é uma utopia portanto. A lógica natural é um desprendimento de sua prole para que possa ela enfrentar ser aquilo que almeja e deseja para sua vida, e não ser castrado destas possibilidades. Fecham-se os caminhos, cerceia-se a liberdade e acaba aquilo que mais prezamos para a cada um de nós: a dignidade...
Nós todos somos seres dignos de assumir nossa condição de existência, a partir do momento que já possamos caminhar com nossos próprios pés, e já não necessitamos mais de permanecer presos ao cordão umbilical, agora imaginário, que prendem pais e filhos em tal relação desarmoniosa em questão. Deixem seus filhos terem paz, e filhos de hoje, nunca esqueçam de como é mau ter, não apenas o rabo, mas a perna, os braços, em suma, o corpo todo, preso embaixo dos pés!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Ele faz amor(im)



Há magia no encontro entre duas almas gêmeas...
Não como almas perfeitas, cálidas.
Até porque tais coisas não passam de ficção!

Há magia quando se encontra uma parte de si no outro
E uma vez doado é já impossível ser igual,
Porque até a ausência torna-se presença...

Amor como esse não é de métrica,
Mas de versos livres que topam seguir
Seus rumos quase nunca sempre iguais

Amor como esse não é de rima
Embora possa, e deva, existir em cada verso
Um toque de beleza e poesia...

Se "só se vê bem com o coração"
Já consegui ver além de meus olhos naturais
Para além, e cada dia mais além, dele que faz, ele faz...





terça-feira, 12 de março de 2013

"Página da web não disponível"


Agora é manhã de uma terça-feira (quase às 10h da manhã, pra ser mais exato). E nada tenho pra fazer... Nada? Não, não exatamente "nada": tenho muitas atividades da faculdade textos que devem ser lidos, reflexões que devem ser feitos e trabalhos que devem ser redigidos. Ora, por que digo então que tenho "nada" pra fazer? Ah, desculpem-me, é que me expressei mal: não é que não tenha nada, praticamente falando, pra fazer... O fato é que tenho nada a fazer, ou seja, nada que possa ser feito para mudar isso... Estou sem internet!!

Logo, como poderia baixar minhas atividades e o material a ser utilizado? E ainda que me negasse a fazer tais exercícios, como poderia conversar com meus amigos? Sim, porque muitos deles encontram-se on-line em seus respectivos ‘Facebooks’, esperando ansiosamente alguém para confessar suas angústias, soltar aquela boa fofoca ou, simplesmente, trocar uma ideia...

As horas, minutos e segundos parecem badalar um pouco mais lento... Um pouco não, parecem estar voltando no tempo! Nossa! Como é difícil viver sem essa internet! Como é difícil passar um dia sequer sem alimentar esse vício! Pareço até um preso vislumbrando a rua enquanto fica encarcerado pelas grades intransponíveis de uma conexão sem internet! "Sem acesso à internet", me informa invariavelmente o perfil de minha rede. O "gato" já vem do vizinho. Como poderia ele deixar de pagar a conta de tão essencial item nas nossas vidas?!

Não consigo entender... Mas o tempo que parece sobejar um pouco em meio a uma vida cada vez mais artificializada, academiada, corrida e também cada vez mais cibernética, porém me leva a fazer uma coisa que raramente encontra espaço no meu dia-a-dia: pensar e escrever sobre coisas frugais sem que alguém fosse capaz de me escutar. Lembro-me até de quando morava num sítio, em tempos idos...

Era eu criança ainda e costumava brincar solitariamente com aquilo que estava bem ali ao meu redor: pedras, galhos, uma planta e outra, uma poça e outra, até finalmente encontrar no horizonte um caminho infinito de possibilidades de fazer. Eram tempos bucólicos aqueles, mas idílicos, com certeza. Não duvido, de forma alguma, que certa harmonia e singeleza tenham sido inscritas em mim em meio a experiências tão envolventes e peculiares.

É bem verdade que a paisagem ao meu redor mudou bastante: já não se veem árvores ora verdes ora cinzas, conforme o tom das estações; já não se escuta os chocalhos dos jumentos que carregavam em suas costas os tonéis com água pela estradinha de barro; nem se veem casas de taipa, nem donas de casa assentadas em seus peitoris para conversar com as comadres da casa ao lado. A inspiração, portanto, também mudou. Mas não morreu, e guarda vestígios dentro de mim.

De uma alma de menino que ficou parcialmente perdida no mundo adulto. Lotado de coisas para serem feitas, e que me permite, exceto quando teimo em fazer diferente, somente desfrutar dos outros pela interface de uma conexão on-line e pensar quase nunca sobre quem sou e o como exploro este mundo. Minha nossa! Já é hora de eu tomar banho para ir à faculdade! Pessoal, com licença, tenho de ir nessa, ou do contrário chegarei atrasado para a aula...! ‘Té +’! ;-*



quarta-feira, 6 de março de 2013

Sobre os prótons e elétrons*


“O mal do mundo moderno é a liberdade”... Pesada essa afirmação, não é? Também acho. Ela foi feita por um sujeito social, provavelmente pai de família. Imagino nele também a figura de um bom cristão, daqueles que vai todo domingo à igreja, paga todos os seus dízimos e dá esmola aos pedintes. E digo assim tomando como base o perfil de sua foto. Alguém poderia condenar tal homem santo, zelador e propagador dos bons costumes? Jamais, não é mesmo?
Pois é, interessantemente nossa sociedade está repleta de bons samaritanos como esses. Sujeitos que são exemplos de prática moral e cívica. E aqui não desejo recriminá-los por serem como são ou acreditarem no que acreditam, afinal não é um direito que lhes assiste? Eu, porém, na condição em que me colocam e colocam a muitos como eu, não correspondo ao perfil sagrado tão aceito por esses indivíduos.
Pronto, já podemos nos dar as mãos e seguir rumo a um futuro posterior longe de rancores, preconceitos e conflitos? Não... Espera! Tinha esquecido um detalhe importantíssimo: tais pessoas não aceitam, de maneira alguma, aquilo que está além de seu mundo sagrado! Para elas é melhor sentir dor a gozo, fazer guerra ao invés de semear a paz. Para elas é melhor, muito melhor, abrir mão da LIBERDADE e encará-la como um “mal da modernidade” a nos tornar sujeitos livres, apesar de diversos e diferentes.
Como deveria eu me sentir nessa situação? Qual o meu lugar perante a uma sociedade higiênica daquilo que é considerado “anormal”, “desviante”, “ofensivo”, “intolerável”, “ridículo”, “insano” – só para citar alguns– ? Deveria eu me calar e aceitar de bom grado a difamação e, quem sabe, até a tomada de minha liberdade? Eu respondo a esta pergunta: JAMAIS!
Talvez o que mais me irrite, a ponto de ficar em nervos, é que quando é tocado algum objeto de sua crença, defendem com unhas e dentes seus princípios e ai de quem estiver envolvido no “babado”! Alguém se lembra da grande polêmica acerca da retirada da frase “Deus seja louvado” nas cédulas de real ou das declarações infundadas do Pr. “psicólogo” Silas Malafaia? Seu objetivo era claro: converter, a qualquer custo, sem se importar realmente se aprovávamos ou desejávamos aquilo.
Agora, quando o assunto é tocante a nossa categoria, somos um bando de desocupados, de ressentidos, que nos ofendemos tão facilmente, não é? Veja-se o que aconteceu em uma recente matéria publicada no site UOL sobre uma apostila que usava, sim, de uma visão preconceituosa, onde o naturalmente correto seria a junção heteronormativa: homem-mulher. Quer dizer que dois homens não podem, ou não devem se atrair? Em declaração à matéria o diretor da escola afirmou: "O normal é que o sexo masculino seja atraído pelo sexo feminino, não tem nada a ver com homofobia.", então quer dizer que não tem nada a ver com homofobia, mas somos considerados anormais? Que monte de paradoxos ridículos! (Ver matéria:http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/03/05/associacao-lgbt-denuncia-escola-por-material-didatico-homofobico.htm#comentarios)
Reprodução do material sobre o princípio da atração e repulsão
A primeira citação supracitada foi de um desses defensores morais do “mundo moderno”, o qual juntamente com a maioria das pessoas que comentaram tal matéria fomenta e subsidia uma visão religiosa – é isso mesmo, da moral cristã! – e conservadora de visões medievais de existir e ser no mundo.
Só pra finalizar: não sou um próton, nem um elétron para estarem me utilizando como exemplo didático de seus livros infantis. Sou um ser humano, dotado de consciência e de direitos, inclusive da liberdade que querem me tirar. Portanto quando quiserem fazer chacota de mim, e assumirem seu mundinho limitado de ser, faça-me o favor: sejam homens de verdade!

*Texto também publicado em http://blogallysonmoreira.blogspot.com.br/

domingo, 3 de março de 2013

Pedra no percalço




Meus textos sempre, ou quase sempre, surgem de uma inquietação – uma pulga atrás da orelha ou uma pedrinha que insiste em dificultar o caminhar. Estas pedras e estas pulgas não são mera invenção de uma mente puramente criativa, elas estão aí, no mundo extenso, causando muito incômodo e insatisfação.
Se sempre, ou quase sempre, escrevo por esses motivos, hei de ter uma boa causa para, mais uma vez, estar soltando as letras! E a tenho... Talvez ela não seja apenas uma, e, provavelmente, outras situações contribuam para seu agravamento. Mas, afinal, de que raios estou falando? Se anteriormente tivesses lido algum de meus textos suspeitaria do que falo e não somente isso, certamente concordarias, ou não... – no caso de estares no extremo lado oposto.
Meus textos, para quem nunca os leu, sempre versam sobre a vida e tudo que gira em torno dela. Liberdade, responsabilidade, sonhos, ambições, medo, angústia: são estes apenas alguns temas mais recorrentes nos meus escritos. E se tais textos não falam a caráter puramente filosófico, ou emotivo, reclamam da existência enquanto coisa dada ou forjada. Exige para nós enquanto ‘seres’ uma espontaneidade e singularidade, as quais, acredito eu, devem ser expandidas a cada homem.
É exatamente neste ponto que explica o prólogo do texto: estou com uma pedrinha no meu sapato, e ela está me impedindo de caminhar para aquilo que concerne à minha mais genuína existência: a liberdade! Não me sinto livre, nem estou. Óbvio que não retrato aqui a liberdade de ser tudo ao mesmo tempo, não se trata de tal ufania! Falo, antes de um campo possível e viável de liberdade: a liberdade experiencial.
Quantas críticas e contingências, até punições e certos tipo de humilhação, não são deferidas contra quem apenas exige o direito de ser daquele modo, acreditar naquilo e viver singularmente? Quantos absurdos e sapos não são engolidos todos os dias para sobreviver ileso da prisão que é o provar de uma família e de uma sociedade higiênica dos “maus costumes”?! São muitos! E já estou farto disso. Farto de todos os dias ter de levantar já com o fardo em minhas costas e deitar com todas as dores de um dia dilacerante... Farto de ter de escutar tantas barbaridades, ver tantos olhares de nojo e gestos repulsivos.
Minha fadiga e desesperança chegam quase a acabar minha fé na vida e minha esperança num futuro melhor... O que eu fiz pra merecer tanto ódio, rancor? Por que preciso ser tão lavado e purificado neste sangue? Minha desobediência em querer ser eu próprio parece até deixar ainda mais coléricos aqueles que preferem levar uma cruz e uma pedra no sapato, a terem de se entregar a um percalço e dar lugar às outras possibilidades.
Contrário a tudo isso, seria muito bom se fosse verdade aquilo que escreveu o ilustre Sartre: “estamos condenados a ser livres”... Ao menos assim poderia eu ser, quem sabe, um pouco mais feliz.