segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Versos soltos


Não te culpo por já não lembrares mais de mim. Pois a vida é assim: esquecimento...
Coisas um dia foram vivas para um dia estarem mortas, não... Não te condeno...!
Por mais que ainda esteja aqui, por mais que ainda me lembre de ti...
Jamais te condeno, minha cadena... Nosso presente se foi, virou passado, porém ainda posso senti-la aqui, ao meu lado...
Não me importam mais as promessas de sempre estarmos juntos, hoje eu sei: era só um sonho! E sonhos também passam com o raiar do sol matinal...
Este é um claro sinal, de que novas rosas nascerão, ainda que pétalas velhas caiam ao chão,
E isto é a vida...

domingo, 25 de novembro de 2012

Cavando o ser (parte 4)


Quarta-feira, 9:20 AM.

Evan não sabia o bem que havia me feito com aquelas palavras: “você precisa ter os seus”. Não era a primeira vez que tal conselho tinha sido me dirigido, mas pela primeira vez  me causava algum efeito.
Sempre havia sido um garoto muito sonhador. Sonhava com  um mundo perfeito, onde tudo era admirável, maravilhoso. As pessoas seriam cordiais e entre elas não haveria raiva, ódio ou rancor. No meu mundo perfeito todas as forças conspiravam a meu favor, eu seria uma pessoa sortuda e todos os eventos confluiriam de tal forma a concretizarem meus desejos. Pode ser que tenha sido uma fase da minha vida, quando a criança percebe o mundo como servil de suas vontades. Se fase ou não, de alguma forma, eu parecia tentar pincelar um mundo colorido onde realmente só havia tons de preto e cinza.
Minha infância foi assim... Cheia de tons de preto e cinza, repleta de problemas existenciais. Não tive uma boa mãe, ela sempre foi muito seca e exigente comigo. Já meu pai era minha mãe às avessas: sempre me permitia muito, mas também à minha mãe, o que me deixava, de certo modo, de mãos atadas... Então foi assim: cresci totalmente livre dentro de um cárcere escuro e sem vida.
Na verdade nem sei bem quando ou de onde este sentimento de angústia ou medo começou dentro de mim. A impressão que tenho é que sempre as tive. Talvez fosse um espelho da minha vida, do meu dia-a-dia... – longo silêncio, e depois continua – Minha mãe sempre me cobrou muito nos estudos, sabe...? Por isso boa parte da minha vida eu passei na escola, vivia cercado de colegas, e mesmo assim nunca consegui me relacionar com muitos deles. Sempre fui um garoto de poucos amigos. Não que não quisesse, aliás, costumava me apegar muito fácil às pessoas, e quase nunca era correspondido... Então acabava me retraindo, até pra me conservar de mais sofrimento e dor.  
Também nunca fui muito bom em paquerar meninas. Na verdade das poucas vezes que tentei foram experiências tão fracassadas que não voltaria jamais a repeti-las! Não andava com os garotos, eu parecia ser de alguma forma diferente deles. Mas eu só saberia disso tempos depois... – sorri compenetradamente –, não brincava com eles, sempre os achei uns completos idiotas.
─  Mas o que Evan, aquele garoto de quem me falou no começo de nossa conversa, exatamente o quê ele falou a você? – pergunta o psicólogo.
─  Bem, estava quase a chegar neste ponto... Evan é um grande amigo meu e está num relacionamento sério há dois anos. Sabe... Eu sempre havia admirado muito o modo como eles se tratavam. Pareciam feitos um para o outro e sempre fiz questão de elogiá-los grandemente. Certo dia estávamos nós três sentados à mesa e eu lhes relatava como de costume como eles tinham sorte e blá blá blá... Foi quando Evan virou-se para mim e me falou que os sonhos não eram feitos de fantasia e que tão mais distante estariam de mim quanto eu os idealizasse nos outros. “Você precisa ter os seus sonhos”, foram suas últimas palavras. Aquilo pareceu me tocar profundamente, era como se pela primeira vez eu tivesse aberto meus olhos para ver o mundo em que vivia. Pela primeira vez observava o que eu realmente tinha sido: um garoto problemático e cheio de idealizações e fantasias.
─ Foi quando você decidiu procurar minha ajuda... – Indaga o doutor Thredson.
─ Sim, foi exatamente neste período.
─ Isto para nós representa um grande avanço. Pelo fato de você próprio sentir-se necessitado de uma ajuda profissional. Bom, Kevin, nossa sessão está encerrada por hoje, tudo bem? Nos encontramos novamente na sexta-feira!
Thredson acompanha-o até a porta, onde se despedem formalmente com um aperto de mão. Kevin desce as escadas que davam acesso à saída do prédio London Hilton Estava ainda absorto em suas lembranças. Sentia a inquietude por não poder saber o que esperar para o futuro, mas de alguma maneira tinha a certeza de estar fazendo o caminho mais certo.
Do lado de fora o dia estava lindo: sol entre poucas nuvens. Uma brisa leve e fria carregava as folhas caídas sobre a calçada. Era outono e as árvores começavam a perder suas folhas já amareladas. Nas ruas pouco movimento, o que permitiu atravessar a rua tranquilamente. Como a vida parecia mais leve... Como as coisas pareciam se ajeitar, mas não mais como num sonho... Aquilo era o real, era ele mesmo...!


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Desvelando o Ser


Martin Heidegger nasceu na Alemanha, em 26 de Maio de 1889. Considerando este recorte temporal: de fins do século XIX, data de seu nascimento, até boa parte do século XX, época de seu falecimento é fundamental perguntar: o que é possível ter vivenciado nesse período? E como estas vivências poderiam ter acompanhado o pensamento metateórico deste filósofo? A princípio tentaremos responder a estas perguntas, procurando uma forma de entendê-lo melhor.
O presente autor fenomenológico-existencialista, certamente sofreu as pressões de seu tempo. Viveu na época da ovacionada racionalidade, da veneração à técnica, da propagação avassaladora de um modo de produção – o capitalista – o qual entorpecia os detentores dos meios de produção com enriquecimento farto, e subjugava os operários – mão de obra das indústrias –, configurando para ambos um modo de vida cada vez mais artificializado e distante de uma vivência equânime de “ser humano”, enquanto encontro de si no outro e de si em si mesmo.
Ele, de certo modo, conheceu esta realidade conflitante, paradoxal, e provavelmente foi influenciado a discorrer sobre estas realidades. Seu recurso, metaforicamente falando, foi um espelho, com o qual propunha contrastar aquilo que parecia ser com o que realmente era, e estava oculto diante do que se podia ver. Pretendia ferir, com isso, as concepções individualizantes e uniformizadoras, concepções estas necessárias para a propagação daquele modelo “impessoalizante” gestado por dada sociedade industrial e técnica.
Era sobre isso que Heidegger escrevia: sobre olhar-se no espelho e ver, para além de sua face, a sua existência, não enquanto coisa dada, mas como algo singular e único. Ressaltava que, para isso seria necessário mergulhar em si próprio buscando, diferente da vida ilusória, aparente, aquela verdadeira face de si. Abria espaços para além da velha racionalidade, uma vez que dava relevo às vivências e experiências intra-subjetivas, as quais, portanto, estavam essencialmente embebidas de um caráter puramente sentimental.
A própria filosofia heideggeriana se propôs a mergulhar em suas próprias ideias buscando encontrar a verdadeira face do “eu”. Por isso diz-se que a filosofia dele é ontológica – pois busca nas causas primeiras a existência do seu ‘eu’ mais próprio, do ser que é. Heidegger, ao fazê-la, pontuou a diferença do homem enquanto ser singular, isto é, diferente dos outros seres, chamando- de Dasein, ou seja, ‘ser-aí’ – como espaço [lugar] onde o ser se desvela [vivencia] o seu eu (no seu próprio corpo). A existência, a partir daí, só é dada ao Dasein, porque, dentre outras coisas, é a partir deste ‘modo de ser’ singular que é possível estabelecer questões e significados às coisas.
Heidegger não via este Dasein como um ser fora de seu contexto formador e por isso o designava como um ser-no-mundo, este mesmo mundo não só como espaço de pertencimento – de habitação –, mas também como espaço de vivência com outros Dasein, espaço de interações, portanto de acordo com o modo de ser primordial do homem: em suas relações. Afirma-se assim porque não é possível estabelecer a função de pertencimento consigo mesmo caso não haja a relação de pertencimento com o conjunto dos outros Dasein, conjunto esse que legitima e contribui para existência do ser.
Contemplando aquelas noções de homem, enquanto ser-aí e como ser-no-mundo, a filosofia heideggeriana estabelece um conjunto de outras noções que embasam e oferecem subsídio para se pensar este modo singular de “ser” humano. Uma delas é a noção de cuidado: uma maneira cotidiana específica de habitar o mundo e relacionar-se com os outros, privilegiando a preservação e a conservação daquilo o qual é pertencente ao próprio Dasein, mas também a outrem, ou seja, de um modo geral, de tudo o que concerne à existência.
O presente filósofo também percebeu que o fenômeno de ser, não era claramente manifestado, ao menos não de imediato, e o caminho para desvelá-lo é a partir de uma atividade reflexiva de sua experiência. O que fica nas entrelinhas desta ideia, e que Heiddeger contempla em sua obra, é de que muito comumente o homem vivencia sua experiência de maneira impessoal, isto é, não condizente com aquilo o qual é mais próprio de si, de seu lugar íntimo.
Aliás, viver impessoalmente era praticamente imperativo naquele contexto socioeconômico e político no qual o tal filósofo existencialista conheceu, até porque não seria nada interessante haver sujeitos refletindo sobre sua própria realidade e sobre como aquela ordem socioeconômica e política as empurrava a viver de maneira cada vez mais imprópria. Utilizando-se desse prisma, não é assim que grande parte vivemos em muitos momentos?
A pergunta que deve ser feita, e a qual, de certo modo, fica respondida por Heidegger é: por que não questionamos sobre nossa vivência mais própria? O que nos impele a não fazermos isso? A possível resposta elucidada por ele é de que nos rendemos à força do hábito, e o fazemos porque nos parece mais cômodo. Veja-se esta alegoria: um bebê, para reivindicar seu primeiro fôlego de vida acaba sofrendo e chorando, por sentir o ar expandindo seus pulmões adiabaticamente e, mesmo que este fato permita ao bebê viver e ser ele, isto causa muita dor. Semelhantemente acontece com o homem: também sofre ao entrar em questão consigo mesmo, sente dor ao procurar encontrar sua própria essência. Partindo dessa ideia é possível conjecturar o porquê de se evitar tanto: é mais confortável permanecer no modo “automático” o tempo todo.    
Não se diz que isso, entretanto, seja errado (o fato de utilizar-se do hábito). Até porque é insensato reclinar-se a pensar sobre tudo de si o tempo todo. Heidegger sabia disso, tanto é que estabeleceu a noção de débito: sempre devemos a nós mesmos pela incapacidade de realizar todas as possibilidades. E não há nada de errado com isso. O que é possível – e esperado – que se faça é demonstrar abertura de sentidos, de possibilidades. Este é, a partir dele, um modo autêntico de se permitir viver.
Já dizia Carlos Drummond de Andrade que a “dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”, e a angústia mostra-se inevitável neste sentido. Entretanto desponta como crucial no papel de instigar o Ser a assumir a responsabilidade de poder ser de diferentes maneiras. É a partir dela que nos tornamos capazes de mergulhar no desconhecido de nós mesmos e assim conhecermo-nos um pouco melhor.
A abertura feita por este processo de autoconhecimento, ainda que passando por sensações, ora dolorosas, ora angustiantes, nos leva a alcançar um nível de confiança em nós mesmos o qual está evidenciado na noção de ‘decisão’ expressa por Heidegger: enquanto abertura privilegiada, a qual permite suportar eventuais desconstruções de velhos paradigmas e constituir novos modelos.
 Talvez a maior angústia que se possa ter é acerca de algo realmente indissolúvel. É quando nos sentimos limitados demais, presos a uma dada circunstância. Se angústia pode ser entendida resultado da limitação, do encarceramento, certamente somos seres angustiados (se abrirmos espaço para a reflexão, óbvio), pois, assim como conceituou Heidegger somos seres-para-a-morte. E esta é algo factualmente irremediável.
E ainda que seja algo comum a todos os homens, assim como a existência também o é, cada qual somos capazes de vivenciar de modo singular a morte (não o morrer). O fenômeno da morte, no sentido trabalhado por Heidegger, parece estar muito mais atrelado ao sentimento existencial de finitude, e este sentimento aparece como sendo particular para cada Dasein.
Este foi Martín Heidegger: um homem que esperava mais de que um mundo técnico, distante de uma vivência não própria, impessoal. Se não for dizer demais, até diria que foi um sonhador, pois desejava um mundo onde ser aquilo que Somos estivesse mais perto de se tornar real. 

domingo, 18 de novembro de 2012

Primeiro encontro (parte 3)


Ezra põe a mão no peito de Kevin.
─ Ual, posso sentir o palpitar do seu coração... Como ele está rápido!
─ Bem... Eu nunca havia sequer tentado dançar antes. Então... Acabo ficando um pouco nervoso!
─ Mas veja! Você está se saindo super bem para uma primeira vez ─ e dá uma pirueta em Kevin.
(Risos de ambos)
─ Você é um cara muito bacana, não estava errado quanto a você...
─ Psssiu... ─ chia aproximando sua face à de Kevin.
Seus rostos a poucos centímetros de distância um do outro, estavam quase a se tocarem, quase a se beijarem, quando são interpelados por uma voz a avisar:
─ Aqui está, senhores, seu pedido! Fiquem à vontade, se precisarem de alguma coisa é só levantar a mão e venho até vocês!
Kevin solta Ezra, sentando-se rapidamente. Já Ezra fica a entreolhar o garçom e os pratos bem enfeitados. Entre a resignação e indignação, resolve sentar-se também a mesa.
─ Tudo bem, assim que precisarmos nós PESSOALMENTE o chamaremos. Muito obrigado!
─ Ah, tudo bem. Bon appetit! ─ e sai prontamente.
Os dois se olhavam agora e riam-se por dentro, gozando do eventual embaraço que lhes havia ocorrido há pouco.
─ Hmmm... Esta comida está muito boa! ─ fala Kevin.
─ Não te falei? ─ responde expandindo um largo sorriso.
─ De que é feito mesmo?
─ Basicamente de camarão... Ele vem cozido, então certamente não viu...
─ Camarão?! ─ grita, cuspindo no prato.
─ O que houve? Algum problema?! ─ levanta-se Ezra, preocupado.
─ É que sou alérgico! ─ diz, tossindo.
─ Garçom! Garçom! Por favor, um copo com água! Água, urgente!
O garçom traz a água, e em poucos minutos parecia tudo normalizado.
─ Me perdoe... Não poderia imaginar que eras alérgico a camarão!
─ Não, não te preocupes. Não me aconteceu nada... Estou bem!
─ Puxa! Assim fico mais tranquilo! Vamos para outro lugar? Não me sinto mais à vontade num ambiente em que tentei matar você! ─ afirma rindo.
─ Acho bom! Para onde vamos?
─ Que tal um sorvete? Até hoje nunca vi uma pessoa que fosse alérgica! Você não será o primeiro, não é?
─ Não. E amo sorvete!
─ Então, o que estamos esperando aqui?! Let’s go!
Pagam a conta e saem abraçados, rumo à porta do restaurante. Pareciam conhecidos já de longo tempo. O garçom fica parado no balcão olhando os rapazes sumirem na sombra da noite. A noite continuava leve naquele lugar, um pouco mais movimentado, mas certamente menos romântico, menos fantástico...   
 Veja: PARTE 4

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Lágrima de mim



Quando você banha meus olhos com suas águas cristalinas, oh, lagrima de mim, sinto (além de uma leve coceira) aonde você passa (uma leve coceirinha), mais vontade de chorar. Ora, por que será? Chorar é bom, faz bem pra alma, traz consigo a calma e a paz no coração.
É uma pena que contigo venha coriza no nariz, não, isto nada condiz com toda sua siplicidade e beleza. Mas os olhos ficam vermelhos como os da maconha, isto é certeza! E ainda sim és bela! Lágrima de ouro, que vales mais que um tesouro!
Tu és tão linda que amas o som da música, amas escutar o som do vento, leva na brisa o desalento e de mim todas coisas ruins!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Primeiro encontro (parte 2)


Ezra ousa segurar a mão de Kevin que estava sobre a mesa, ao que Kevin responde retraindo-a desconcertadamente.
─ Desculpe, estou sendo invasivo, não é?
─ Não, não é isso... É que... Pareço não merecer isto, me perdoe... Pareço um louco, não é? ─ fala, cerrando os olhos.
Ezra segura o queixo de Kevin levantando o rosto já caído e olha nos olhos de Kevin:
─ É, assim parece bem melhor! ─ sorri garbosamente.
Kevin parecia não acreditar naquela áurea que o envolvia um lado a outro. Sentia-se noutra dimensão: haveria de estar vendo tudo aquilo, toda aquela perfeição e delicadeza? Parecia se perguntar cada vez que pestanejava, duvidava que seus sentidos trouxessem à flora um ser até então apenas idealizado, mas que, no entanto, estava bem ali, à sua frente!
─ Pareço estar sonhando e tu fazes parte desse sonho. Poderia me beliscar, pra eu ter certeza de que... Ai! ─ grita baixinho, depois de receber um breve beliscão, antes mesmo que terminasse de pronunciar toda a frase.
─ Você mesmo quem pediu ─ defende-se, com um sorriso maroto nos lábios.
O garçom volta para recolher a taça já vazia:
─ Desejam alguma coisa para comer? ─ oferecendo prontamente o cardápio.
─ Que iremos comer...? ─ pergunta Ezra, voltando-se para Kevin.
─ Não sei... Pra falar a verdade nem estou com tanta fome...
─ Vamos lá... Não seja acanhado! Estamos num ótimo restaurante, não quero que percas o prazer de experimentar uma boa comida!
─ Bom... Sendo assim, o que pedires quero o mesmo.
─ Tudo bem, prometo não decepcioná-lo!
O garçom anota tudo:
─ O pedido de vocês chega em alguns instantes!
─ Tudo bem ─ concorda Ezra.
─Aqui estamos nós a sós de novo! Espero que esse garçom não venha nos incomodar mais vezes esta noite! ─ fala Ezra, sussurrando em tom de segredo.
─ É, espero que não nos incomode mais vezes... ─ responde Kevin, expandindo um sorriso.
─ Você é muito tímido assim sempre?
─ Ah, eu? Não, não. Na verdade até falo demais, meus colegas sempre penam muito comigo, tem de me ouvirem falar o tempo todo ─ lembra, rindo.
─ Não parece ser bem assim no momento... Mas acho que posso ajudá-lo!
Naquele momento começava uma música leve e romântica. Ezra levanta-se e vai até Kevin oferecendo a mão para ele:
─ Gostaria de dançar?
─ Como? Eu?! ─ pergunta, já ruborizando um pouco a face.
─ Sim, você mesmo. Vamos, não lhe dou escolhas!
─ Mas eu não sei dan...  ─ antes que terminasse de falar Kevin é puxado.
─ Você é um garoto muito relutante... ─ Ezra sussurra.
(Kevin suspira)
Os dois são embalados pela melodia serena e suave da música. Pouco se escutava naquele lugar, pouco também se podia escutar: os olhos se fechavam, enquanto cada um podia sentir o palpitar do coração do outro. Seus calores se abraçavam, suas frontes reclinavam no ombro um do outro, suas almas dançavam juntas, sonhavam juntas.
─ Não está bem melhor assim? ─ pergunta Ezra.
─ Sim...

Veja: PARTE 3


domingo, 11 de novembro de 2012

Primeiro Encontro


Era uma noite de sábado. Em uma mesa bem adornada de um elegante restaurante de Londres, com vistas para os altos prédios da cidade, através de seus vitrais.
O garçom se aproxima da mesa onde se encontravam os dois rapazes que acabavam de se acomodar:
─ Boa noite, desejam alguma coisa para comer ou beber?
─ Ah! Sim, por favor. Traga-nos duas taças de vinho... Você bebe? ─ Pergunta para seu acompanhante.
─ Não, não bebo.
─ Ok, então sendo assim, traga apenas para mim. Depois escolhemos algo para comer.
─ Tudo bem ─ fala o garçom, já se afastando da mesa.
Kevin e Ezra já se entreolhavam há algum tempo. Parecia que ambos queriam falar, mas hesitavam em sobre quem começaria aquela conversa. Até o momento em que Kevin decide tomar a iniciativa:
─ Nem sei por onde começar, eu... (grande suspiro).
Ezra sorri carinhosamente e prossegue:
─ Me parece um tanto nervoso... Algum problema?
─ Não, não... É que você é tão... Tão perfeito!
Neste momento olha para Ezra fixamente, buscando todos os sinais de sua beleza: olhos pretos magnetizantes, lábios vermelhos, pele alva e contrastada com seus longos fios de cabelo tão pretos quanto a escuridão da noite, e brilhantes como as estrelas do céu!
─ Achas mesmo? – Responde gozadamente, fazendo algumas caretas miúdas.
─ Sim... – Outro grande suspiro.
O garçom traz a taça de vinho.
─ Gostaria de me admirar tanto assim também, cada vez que me olho no espelho! (risos).
─ Não fazes noção de quanto és belo... E não tenho dúvidas de que muitas pessoas dariam qualquer coisa para ficarem apenas um dia com você...
Ezra pega a taça que está à sua frente e toma um pequeno gole de vinho.
─ Você também é um cara bem bonito. Devem ter muitos garotos e garotas atrás de você na escola...
─ Imagina... Há muito tempo espero a pessoa certa para um relacionamento sério, e nada!
─ Humm... E achas que sou o cara certo para ti?
─ Bem... Desde a primeira vez que o vi senti algo como que uma força paramagnética me fisgando pra perto de você. Foi algo muito intenso... E desde aquele dia não consegui parar de pensar em você... Dormia e acordava, e a única coisa que conseguia pensar era no seu sorriso... Até fico repetindo aquela cena em câmera lenta na minha mente, sabia?
Ambos riem por um pequeno momento.
─ Câmera lenta? Interessante... – Responde ainda sorridente.

Veja: PARTE 2

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Respondendo questões!

Como você avalia a diversidade teórico-metodológica presente na Psicologia?


Provavelmente uma primeira reação que se expressa em minha mente em função desta diversidade é de dúvida, ou questionamento: por que existem tantas concepções teórico-metodológicas em torno de um mesmo objeto – o "homem"? Outra reação que aparece logo em seguida, quase como consequência da primeira, é de tentar resolver este enigma e dissolver esta questão.
Confesso que não tem sido uma tarefa muito fácil, pois os domínios teóricos da Psicologia são vastos e cada qual tem uma fundamentação lógico-argumentativa muito convincente. Se o raciocínio lógico está em todas elas bem encadeado, o que as difere enquanto correntes teóricas? São seus pressupostos (filosóficos)! Cada qual traz consigo diferentes concepções de homem e, em função delas, suas prováveis deduções (ou induções).
Mas, afinal, isto é bom? Isto é ruim? Se bom ou se ruim, em que medida? Bem, não sou o tipo de pessoa/ser humano/sujeito que valorize um entendimento humano esfacelando-o e analisando suas partes, sem, dessa maneira, considerar o âmbito holístico, geral. E por isso certamente não encaro a existência de tantas correntes teórico-metodológicas como algo tão bom, isto é, a qual mais contribua que desagregue conhecimento em torno dele. Sem falar, é sabido de todos, que os adeptos de uma ou outra teoria muitas vezes se enclausuram tanto em seus conceitos que perdem a dimensão da vida humana e de suas peculiaridades.
Obviamente que a diversidade tem suas vantagens e dividir a “mente”, o “cérebro”, o “psíquico”, ou quaisquer outras denominações semelhantes a essas, traz consigo uma qualidade inquestionável: observar e estudar utilizando-se diferentes ângulos e perspectivas, enriquecendo e contribuindo, até certo modo, para a completude dos conhecimentos acerca do homem. Até certo modo, porque, como havia referenciado anteriormente, quando se parte para o “enclausuramento” presencia-se muito mais uma ruptura, quebra ou afrouxamento que uma construção, somatório, daquilo o qual é verdadeiramente ser humano.
Bom, no momento prefiro me apegar à seguinte sábia frase de Voltaire: “Posso não concordar sequer com uma palavra do que disseres, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la”.Talvez seja esta mesmo a melhor opção a ser feita.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Nódoa na Existência

     Pedir para que um adulto pare de pensar mais em si em função de um novo ser    um filho    com certeza é pedir muito de alguém o qual também quer viver, quer sentir-se livre. Mas é igualmente cruel cobrar de seus filhos que cresçam antes do tempo e tornem-se logo adultos. Cobrar que sejam autônomos para poderem o quanto antes se virarem sozinhos e, quem sabe, até os ajudar financeiramente, assumindo suas contas.
     Os bons observadores perceberão o porquê desta minha posição argumentativa, basta ter um pouco de empatia: fui cobrado muito cedo por respostas, responsabilidades. Fui estigmatizado pela espera de um grande futuro    promissor, brilhante. E por isso tinha muito medo do futuro e de suas incertezas, ou melhor, das represálias de não concretizá-lo. E lentamente minha infância e adolescência foram se tornando num chão cada vez mais movediço, num pântano insalubre e sem vida.
     Não provei certamente as agonias de passar fome... Céus! Deve mesmo ser horrível! Também não precisei "vestir-me de sol" por me faltarem roupas, não cresci burro. Mas não era uma pessoa feliz. Me chamem de ingrato, mimado, do que quiserem, mas não tinha jamais paz de espírito! Cresci cercado de terrores, fantasmas invisíveis, e que, diferentes daqueles de filmes, podia vê-los todos os dias a perturbar-me.
     Hoje sou capaz de notar: todo o suor, e todos aqueles ovos engolidos crus a fim de saciar a fome de uma pobre operária nordestina, que abraçara o mundo, rumo ao "Sul Maravilha", numa tentativa desesperada de viver uma vida melhor e oferecer melhores condições para seus pais, irmãos e um filho, fruto de uma ironia do destino!
     Mas não pude enxergar isso quando era criança. Não pude ver todo o esforço para suprir meu corpo de suas necessidades. Não pude entender as desgraças da vida, não via suor, nem ovos, nem cansaço, via apenas maldição. Maldição na minha vida, no meu caminho. Quem sabe não fosse "Deus" fustigando minha vida, assim como fez com Jó? A vida de uma criança que não sabe reconhecer a miserável sorte que tem?
     Meu corpo está todo marcado com essas feridas que o tempo, apesar de tudo, cuidou de dar algum sentido, tentando cicatrizá-las...