sábado, 29 de setembro de 2012

Por quê?

"Por que escutar você?"   pergunta a si mesmo, com preguiça e desdém. Estás sentado e olhando para a tela do computador neste exato momento, aguardando a resposta para esta pergunta, mas informo: ela não está aqui, mas em você, naqueles momentos em que mais precisava ser ouvido e entendido, mas o que provou foi algo diferente: uma face impenetrável e inflexível, a qual se reserva a nos perguntar secamente: "por que escutar você?".

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Diamante na praia

     Muita gente deve concordar comigo que a parte mais difícil de escrever um texto é começá-lo, assim como a da injeção é o momento da perfuração. Bom, mas se a enfermeira for bem habilidosa e tiver os truques certos para driblar a percepção de seu paciente, aplicará a injeção com tanta destreza que o sujeito só notará o "já acabamos".
     Pois que assim seja! (já comecei o texto    repare que já leste um parágrafo!): certo dia fui a uma livraria aqui da cidade e estando a contemplar os vários livros, elencados em várias categorias e com espessuras que variavam de um dedo a uma mão inteira (e de dedos abertos!), comecei a filosofar...
     Pensei: quantas informações não estão presentes aqui!? Quantas verdades, fatos, realidades, mas também mentiras, pilhérias e palhaçadas!?
     Passei os olhos sobre alguns deles até encontrar: "Os clássicos da literatura". Ah! Os clássicos... Talvez eles não tivessem em suas épocas tantos livros e tanta coisa escrita a qual os impedisse de, ao menos, serem lidos! Encontrar uma obra de Platão hoje, então, seria como buscar um pequeno diamante que caiu na areia da praia...
     Quem sabe este fato não seja significativo para entender porque eles são tão ovacionados e considerados "imortais"? Sim, porque certamente enquanto seres humanos todos nós concluímos certas "verdades", e não apenas este ou aquele sujeito. Todos vivemos, não é mesmo? Então por que pensar que existem escritores "iluminados"?
     Vou até mais longe: ainda que uma pessoa escrevesse sobre os mesmos temas e sobre as mesmas coisas que um autor famoso (sem lê-lo, óbvio), esta não teria jamais o mesmo brilho que aquele. Ou porque já foi dito, ou porque ela simplesmente não tem 'nome' ou, melhor dizendo, 'renome'. Se a hipocrisia não disser o contrário, não é exatamente assim que funciona na academia?
     Meu pensamento deságua, portanto, numa questão emblemática: qual o lugar reservado para os escritores desse século? Estarão relegados ao triste ostracismo de nunca serem vistos ou preferirão acumular títulos para, quem sabe um dia, conseguirem a voz da palavra? Para mim está claro: hoje em dia não é mister ser apenas um dominador de palavras rebuscadas ou possuir uma qualidade gramatical invejável para ser um "bom escritor", como de certo modo acontecia antigamente.
     É preciso ter o rabo bem preso, para não fugir das "regras da boa escrita" e, assim, agradar tanto ao público (quando se tem) quanto as editoras sanguinárias. Mas se tens sangue forte e muita garra podes escolher um caminho alternativo e fazer um link entre seu sonho de escrever e, quem sabe, ser lido: a internet. Obra maravilhosa a qual não te cobra prazos para escrever, nem conteúdos sobre o qual escrever   ao menos não explicitamente. O máximo de investimento que farias seria de tempo e de energia elétrica.
     "De boa", como diriam alguns colegas meus. De boa... Já posso ser lido? Ah, claro, desculpe... E agora? Tá, ainda não... E...? É isso, você não vai necessariamente ser mais lido apenas por estar na internet, ainda que milhões de pessoas estejam acessando neste exato momento. Se não estás nas prateleiras com outras centenas de livros, compartilhas agora o mesmo espaço que uma infinidade de outros escritores decadentes! Outros esses que podem ter uma qualidade de escrita, já outros que pena dizer: "tentem mais tarde"...
     Outro dia me dispus a procurar a URL do meu próprio blog no google, e, mesmo digitando corretamente, letra por letra, não consegui achar qualquer sinal de existência de minha página!
     Vejam só: se eu próprio não consegui achar aquilo que tinha certeza estar lá, imaginem se outros encontrarão?! Melhor desistir de dar uma de escritor e tentar encontrar aquele diamante que caiu na areia, pelo menos assim ainda ganho uma boa grana!



sábado, 22 de setembro de 2012

Você e eu

      Meu nome é Victor, tenho 19 anos. Você me conhece (de fato)? Se, de alguma forma, estás inclinado a conhecer-me posso ajudá-lo com uma simples definição de mim mesmo: eu sou, apenas e sem mais acréscimos.
      Entendo... Provavelmente você esperava que eu informasse minha altura, meu peso, minha cor de pele, mas estes atributos não correspondem ao que, de fato, sou. Se pareço caucasiano posso muito bem pegar um bom dia de sol e me tornar moreno (inclusive, quantos já não foram crianças "loiras" um dia, e hoje são tão morenos quanto eu naquele dia de muito sol?). Cabelos castanhos ficam brancos, podem cair; olhos enérgicos são apagados por pregas, rugas; barrigas tanquinho podem se tornar pias redondas e fundas, muito fundas!
      Nosso corpo muda e mudamos com ele... Mas completamente? Também penso que não, que somos parte daquilo que éramos e que, portanto, ainda somos. Seria então como uma casa, construída e rebocada paulatinamente, até que sua estrutura não suporte mais e desmorone por completo (e de uma só vez). Não adianta muito, portanto, psicologizar ou cientificizar em torno do "quem somos", numa tentativa histérica de tapar a lacuna que existe em nossa existência.
      Se fosse eu próprio quem estivesse lendo este texto provavelmente já até o teria deixado de lado. Isso porque existir/ser, apesar de ser tão evidente, é obscuro e, irremediavelmente tem uma face que jamais a conheceremos, justamente esta a qual ansiamos desvendá-la. Assim sendo, por quê ler algo "inútil" e, por assim dizer, desnecessário? Realmente não faz sentido... Mas, calma! Não quero que abandone estas minhas palavras, pois elas podem ter (eu falei: podem ter) algo a acrescentar.
      Todo este meu presente pensamento começou com uma foto (minha): eu tinha 5 anos e estava vestido com uma camisa listrada (estilo marinheiro, inclusive com listras azuis) e de cueca. Não me recordo daquele momento, mas estava sorrindo safadamente para alguma pessoa que a foto não revela. "Eu era uma linda criança!", pensei. "Meu Deus, como o tempo passou tão rápido!". Olhando hoje para um espelho percebo que, mesmo aos 19 anos, alguma pregas já se mostram na testa, também que cresceu um pêlo grosso o qual na foto era inexistente.
       Cecília Meireles certamente sentiu a mesma sensação que tive de me ver mais de dez anos depois: "em que espelho ficou perdida a minha face?", pergunta ela, não sei se com um pouco de saudosismo ou de melancolia de ver se corpo mudando a passos largos enquanto a sua "essência", isto é, quem ela "é", caminhando num ritmo bem diferente, mais sereno e sem pressa, como se tivesse a eternidade para desfrutar.
      Às vezes fico sonhando em como seria interessante voltar ao passado, como uma espécie de mágica, não com a essência da pessoa de anos atrás, mas com a que desfruto hoje. Às vezes escrevo para o meu futuro "eu", para que faça desse ou daquele jeito, mas, ele me ouvirá? Acaso pensará como o "eu" de hoje? Acaso me olhará como se fosse um completo idiota? Não sei até quando me verei no espelho, aquela parte de mim que não vejo, mas sinto.
      Talvez fique mais feliz agora em saber que sinto estas coisas e que você as sente também, ao menos agora sabemos: somos mais parecidos do que pensamos e de que, a partir de você, é possível construir uma parte de mim e entender quem sou.
     

domingo, 2 de setembro de 2012

Sonhar é ganhar espaços invisíveis, num universo de coisas existentes, mas ainda irreais...

sábado, 1 de setembro de 2012

Encontro psicanalítico

Dois amigos que não se viam há um bom tempo se encontram casualmente na rua. Apesar de ambom terem estudado o ensino médio juntos, seguiram carreiras profissionais diferentes: um tornou-se economista, enquanto o outro um psinacalista renomado.

Economista -- Opa rapaz! Como vai?
Psinacalista -- Diga aí, meu irmão! Há quanto tempo...!
Economista -- É... Cara, desculpe avisar, mas seu zíper tá aberto!
Psicanalista -- Por que você está olhando pra meu zíper?
Economista -- Ora, não olhei por querer! Só... Você sabe!
Psicanalista -- Está ficando vermelho, eim...? Sabe como chamamos isso em psicanálise? Ato falho!
Economista -- Como assim? Você está insinuando que eu sou gay?! Que absurdo!
Psicanalista -- Não, não. Relaxe aí... Mas, me diga, como anda seu irmão?
Economista -- Por que você quer saber de meu irmão?
Psicanalista -- Ué, não posso perguntar mais não? Qual o problema?
Economista -- Hum, não sei não. Só achei bem estranho o fato de você ter perguntado só por ele, né? Poderia ter perguntado por minha mãe, meu pai, meu tio, minha avó... Ei, pera aí, por que você está ficando ruborizado?
Psicanalista -- Que história é essa? Andas me analisando, rapaz? Eu quem sou o psicanalista aqui!

Lição de moral: quem cuida em pegar as pérolas dos outros esquece de segurar as suas!